quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Bric virou BIC

Segundo o cientista político, a Rússia não merece figurar mais no bloco das grandes economias emergentes
- A A +Felipe Carneiro
Revista Exame - 06/08/2009
Nenhum dos grandes países emergentes escapou da crise sem arranhões. Passado o pior momento, porém, todos eles dão algum sinal de recuperação. A exceção é a Rússia, cujo PIB recuou 10% no primeiro semestre de 2009. Foi o bastante para que analistas como Ian Bremmer, presidente da Eurasia, consultoria americana de risco político, começassem a sustentar a ideia de que a letra "r" deveria ser riscada da sigla Bric, criada para designar o grupo formado pelas grandes economias em desenvolvimento no mundo (Brasil, Rússia, Índia e China).

1) Por que a crise abateu a Rússia de forma mais severa?
Com o fim da alta de preços do petróleo, que sustentou um ciclo de pujança na Rússia, as deficiências econômicas e institucionais do país ficaram evidentes. A Rússia é um Estado brutal e autoritário. Não é de hoje que as instituições estão sendo enfraquecidas. Elas são orientadas para defender alguns indivíduos, e não a sociedade.

2) Uma possível reação do preço do petróleo não poderia recolocar a Rússia num bom patamar?
As reservas russas de petróleo são muito menores que as dos sauditas, por exemplo. Além disso, o país tem outros problemas graves. Um deles é o demográfico. Sua população está diminuindo e envelhecendo.

3) Segundo esse raciocínio, a Rússia corre o risco de ficar de fora do grupo do Bric?
A sigla Bric ficou popular porque resumiu com precisão uma tendência que os analistas observavam há alguns anos: o ganho de importância no cenário mundial das grandes economias emergentes. Em nome da coerência, a sigla deveria ser renomeada para BIC. Não faz mais sentido manter a Rússia nesse grupo.

4) Existe algum outro país que poderia ocupar o lugar da Rússia?
A Indonésia é uma forte candidata. O país é um dos três maiores exportadores mundiais de produtos como carvão, gás natural, óleo de dendê bruto e borracha. Sua população é consideravelmente maior do que a russa -- são mais de 200 milhões de pessoas -- e seus indicadores demográficos são ótimos. Além disso, é uma democracia legítima e reformista, sem armas nucleares.

5) Estaríamos na iminência de ver a criação de um Binc?
A Indonésia tem potencial para chegar ao nível próximo de China, Índia e Brasil, mas precisa antes resolver alguns problemas. Como pontos fracos, eu diria que faltam investimentos em estradas e linhas de trem e há problemas com geração e distribuição de energia. Precisam melhorar também a educação e resolver o problema do terrorismo.

6) Quais seriam os desafios dos outros grandes emergentes?
A população chinesa é enorme, mas muito menos desenvolvida economicamente do que a americana, a europeia e a japonesa. Além disso, o nível de consumo a que os chineses querem chegar é ambientalmente insustentável. Eles veem os americanos em seus carros e também querem os deles, mas é inconcebível ter 1 bilhão de motoristas nas ruas do país.

7) E quanto a Índia e Brasil?
A Índia sofre com a descentralização do sistema político, que torna difícil a tomada de decisões, e com a falta de infraestrutura. A desvantagem do Brasil é a burocracia excessiva, que prejudica o clima de inovação e de empreendedorismo no país.

Nenhum dos grandes países emergentes escapou da crise sem arranhões. Passado o pior momento, porém, todos eles dão algum sinal de recuperação. A exceção é a Rússia, cujo PIB recuou 10% no primeiro semestre de 2009. Foi o bastante para que analistas como Ian Bremmer, presidente da Eurasia, consultoria americana de risco político, começassem a sustentar a ideia de que a letra "r" deveria ser riscada da sigla Bric, criada para designar o grupo formado pelas grandes economias em desenvolvimento no mundo (Brasil, Rússia, Índia e China).

1) Por que a crise abateu a Rússia de forma mais severa?
Com o fim da alta de preços do petróleo, que sustentou um ciclo de pujança na Rússia, as deficiências econômicas e institucionais do país ficaram evidentes. A Rússia é um Estado brutal e autoritário. Não é de hoje que as instituições estão sendo enfraquecidas. Elas são orientadas para defender alguns indivíduos, e não a sociedade.

2) Uma possível reação do preço do petróleo não poderia recolocar a Rússia num bom patamar?
As reservas russas de petróleo são muito menores que as dos sauditas, por exemplo. Além disso, o país tem outros problemas graves. Um deles é o demográfico. Sua população está diminuindo e envelhecendo.

3) Segundo esse raciocínio, a Rússia corre o risco de ficar de fora do grupo do Bric?
A sigla Bric ficou popular porque resumiu com precisão uma tendência que os analistas observavam há alguns anos: o ganho de importância no cenário mundial das grandes economias emergentes. Em nome da coerência, a sigla deveria ser renomeada para BIC. Não faz mais sentido manter a Rússia nesse grupo.

4) Existe algum outro país que poderia ocupar o lugar da Rússia?
A Indonésia é uma forte candidata. O país é um dos três maiores exportadores mundiais de produtos como carvão, gás natural, óleo de dendê bruto e borracha. Sua população é consideravelmente maior do que a russa -- são mais de 200 milhões de pessoas -- e seus indicadores demográficos são ótimos. Além disso, é uma democracia legítima e reformista, sem armas nucleares.

5) Estaríamos na iminência de ver a criação de um Binc?
A Indonésia tem potencial para chegar ao nível próximo de China, Índia e Brasil, mas precisa antes resolver alguns problemas. Como pontos fracos, eu diria que faltam investimentos em estradas e linhas de trem e há problemas com geração e distribuição de energia. Precisam melhorar também a educação e resolver o problema do terrorismo.

6) Quais seriam os desafios dos outros grandes emergentes?
A população chinesa é enorme, mas muito menos desenvolvida economicamente do que a americana, a europeia e a japonesa. Além disso, o nível de consumo a que os chineses querem chegar é ambientalmente insustentável. Eles veem os americanos em seus carros e também querem os deles, mas é inconcebível ter 1 bilhão de motoristas nas ruas do país.

7) E quanto a Índia e Brasil?
A Índia sofre com a descentralização do sistema político, que torna difícil a tomada de decisões, e com a falta de infraestrutura. A desvantagem do Brasil é a burocracia excessiva, que prejudica o clima de inovação e de empreendedorismo no país.

planetasustentavel.abril.com.br - 07 de dezembro de 2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Conferência do clima de Copenhague

Conferência do clima de Copenhague começa tentando driblar o fracasso
Países sentam à mesa para discutir pacto global pelo clima
Firmar um acordo para a redução das emissões de gases do efeito estufa, como o CO2 (dióxido de carbono), na tentativa de conter o aumento da temperatura na Terra. Esse é o objetivo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP15), que começou nesta segunda-feira (7) e vai até dia 18 em Copenhague, na Dinamarca.

Da reunião deve sair um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012 e tem um índice de sucesso duvidoso. Esse protocolo, criado em 1997 e que começou a vigorar em 2005, estabelecia que os países desenvolvidos 37 países industrializados e a União Europeia se comprometeram a reduzir em 5,2% as emissões de gases causadores do efeito estufa, considerados os responsáveis pelo aquecimento global, tomando por base o que foi emitido em 1990.
Kyoto é importante por ser o primeiro passo para um compromisso global de corte de emissões. O acordo previa metas para reduzir as emissões de países desenvolvidos, mas poupava os em desenvolvimento, como o Brasil, o que reduziu muito os seus efeitos. Além disso, os Estados Unidos não assinaram o protocolo, tornando-o um tanto ineficaz.

Agora, com uma discussão mais madura sobre as causas e os efeitos do aquecimento global, os países vão tentar algo mais ousado. As discussões em Copenhague vão ser realizadas com base em três tópicos básicos: metas ambiciosas de corte de redução de emissões de CO2 por parte de países desenvolvidos; ações apropriadas, com objetivos voluntários, por parte nas nações em desenvolvimento; sistemas de ajuda financeira e tecnológica para que os países consigam alcançar essas metas.

Firmar um acordo para a redução das emissões de gases do efeito estufa, como o CO2 (dióxido de carbono), na tentativa de conter o aumento da temperatura na Terra. Esse é o objetivo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP15), que começou nesta segunda-feira (7) e vai até dia 18 em Copenhague, na Dinamarca.

Da reunião deve sair um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012 e tem um índice de sucesso duvidoso. Esse protocolo, criado em 1997 e que começou a vigorar em 2005, estabelecia que os países desenvolvidos 37 países industrializados e a União Europeia se comprometeram a reduzir em 5,2% as emissões de gases causadores do efeito estufa, considerados os responsáveis pelo aquecimento global, tomando por base o que foi emitido em 1990.

Kyoto é importante por ser o primeiro passo para um compromisso global de corte de emissões. O acordo previa metas para reduzir as emissões de países desenvolvidos, mas poupava os em desenvolvimento, como o Brasil, o que reduziu muito os seus efeitos. Além disso, os Estados Unidos não assinaram o protocolo, tornando-o um tanto ineficaz.

Agora, com uma discussão mais madura sobre as causas e os efeitos do aquecimento global, os países vão tentar algo mais ousado. As discussões em Copenhague vão ser realizadas com base em três tópicos básicos: metas ambiciosas de corte de redução de emissões de CO2 por parte de países desenvolvidos; ações apropriadas, com objetivos voluntários, por parte nas nações em desenvolvimento; sistemas de ajuda financeira e tecnológica para que os países consigam alcançar essas metas.

A concretização de um acordo está longe de ser uma certeza - fala-se em “compromisso político", e não em um acordo claro, com metas, prazos e recursos definidos para o assunto.
Mas, se há cerca de um mês um acordo sobre o assunto parecia improvável, agora o ambiente é bem mais positivo. Países que relutavam em adotar metas mudaram de posição.

Os Estados Unidos, vão propor cortar suas emissões de CO2 em 17% até 2020, levando em conta os índices de 2005. E a China promete reduzir entre 40% e 45% a intensidade energética (emissão de dióxido de carbono por unidade de PIB - Produto Interno Bruto) em 2020 em relação aos níveis de 2005 - a intensidade energética é um conceito um pouco mais vago que uma redução concreta de emissões, o que permite ao governo chinês uma maior margem de manobra, permitindo inclusive que o país emita mais CO2, em números absolutos.

O Brasil também tem sua meta: reduzir de 36,1% a 38,9% suas emissões de gases causadores do efeito estufa estimadas para 2020 - o cálculo é feito com base em uma projeção do que o país emitiria naquele ano.

Essas propostas não devem gerar o "acordo dos sonhos", como admitiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O IPCC (Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas) calcula que os países industrializados devem reduzir entre 25% e 40% de suas emissões até 2020, levando em conta os índices de 1990. No longo prazo, a redução teria de ser de pelo menos 50% até 2050 no mundo todo - contando também com a ajuda dos países em desenvolvimento.

Compromissos pelo Clima

O objetivo é evitar que a temperatura da Terra aumente mais de 2ºC até o fim do século, em relação aos níveis pré-industrial. O problema é que cumprir essas metas implica fazer adaptações drásticas nas atividades industriais dos países, por exemplo, o que levanta temores de que essas medidas afetem o desempenho das economias.

Outro gargalo é a questão do financiamento. Cálculos da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC, em inglês) indicam que, logo de cara, entre 2010 e 2012, os países em desenvolvimento vão precisar de US$ 10 bilhões (R$ 17,3 bilhões) por ano para implementar as mudanças necessárias para conter o aquecimento global. Em 2020, esse valor teria de chegar a US$ 250 bilhões (R$ 433 bilhões) por ano. Os países pobres pedem que os ricos, maiores poluidores, paguem a conta.

Adiar o acordo é uma possibilidade, mas os líderes mundiais teriam de arcar com o prejuízo de imagem causado pelo fracasso, já que grande parte da população mundial e a mídia estão mobilizados para o assunto. Além disso, pode faltar tempo para conseguir um compromisso mundial até 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Brasil - 10 questões sobre o pré-sal


Revistas » Edição 2129 / 9 de setembro de 2009

Os desafios para retirar o petróleo do fundo do mar e transformar
essa riqueza potencial em desenvolvimento efetivo do Brasil


"O Brasil é a quinta potência"
A produção brasileira de petróleo dobrou na última década, alcançando 2 milhões de barris por dia. Esse salto expressivo coincidiu com a aprovação da Lei do Petróleo de 1997, um divisor de águas que deu fim ao monopólio da Petrobras e instituiu a concorrência no setor de exploração. Antes o Brasil possuía uma única companhia – de controle estatal e subjugada a interferências políticas – a prospectar as jazidas. Hoje há 76 empresas que exploram petróleo e gás natural nos campos marítimos e terrestres. Além da abertura daquela antiquada reserva de mercado, o país construiu um modelo institucional de exploração transparente e confiável, similar ao que se faz de melhor no planeta. Esse sistema, embasado em concessões públicas disputadas em leilões, foi vital para a atração dos investidores privados, os quais trouxeram não apenas dólares, mas também tecnologia. Agora, com as descobertas promissoras no pré-sal, o Brasil vê-se diante da perspectiva de um novo salto e da possibilidade de se transformar em grande exportador mundial. Pois é esse modelo de sucesso reconhecido que o governo pretende alterar. Nas áreas de pré-sal, passaria a ser usado o sistema de partilha do petróleo. A justificativa – questionável, segundo os especialistas – é que essas descobertas seriam uma espécie de "bilhete premiado", por supostamente oferecer menos riscos de insucesso e maior potencial de rentabilidade, o que justificaria a mexida nas regras do jogo. A seguir, VEJA trata dessas e de outras questões essenciais a respeito do potencial das reservas e de como elas poderão contribuir para o desenvolvimento do país.

1 Qual é o tamanho das reservas?
Ainda não se sabe com exatidão. As estimativas vão de 40 bilhões a 80 bilhões de barris. Até agora, a Petrobras divulgou avaliações apenas para as principais áreas já licitadas – os campos de Tupi e Iara, na Bacia de Santos, e Parque das Baleias, na Bacia de Campos. Nessas três regiões existiriam até 14 bilhões de barris – o suficiente para dobrar as atuais reservas conhecidas brasileiras. Os números poderão ganhar maior precisão no fim de outubro, quando serão feitas perfurações em novos poços e haverá a conclusão dos testes para quantificar as reservas de Guará. Mais importante do que dimensionar as jazidas, no entanto, será determinar quais delas apresentam viabilidade comercial. Segundo a Petrobras, suas perfurações feitas no pré-sal obtiveram uma taxa de sucesso de 87%. Mas empresas privadas anunciaram recentemente que encontraram poços "secos" (com quantidade de óleo insuficiente para justificar a exploração).


2 Quais são os desafios geológicos?
Diversos obstáculos terão de ser superados para que jorre petróleo do pré-sal. O primeiro é sua profundidade: 5 000 a 7 000 metros separam o poço da plataforma. "Explorar petróleo em águas profundas é como dirigir um carro a 300 quilômetros por hora. É possível, mas muito perigoso", afirma o professor de geologia da UFRJ Giuseppe Bacoccoli. As dificuldades se repetem na fixação dos cabos de âncora, que garantem estabilidade à plataforma, na camada conhecida como pós-sal. Como os sedimentos são pouco firmes, aumentam os riscos de a estrutura se desprender. Nos 2 quilômetros seguintes, o sal, por ser viscoso e plástico, pode fluir para dentro do poço, esmagar seu revestimento e fechá-lo. Finalmente, as rochas nas quais o petróleo está armazenado são formadas de carbonato de cálcio, um material de grande resistência à penetração das brocas que tem comportamento imprevisível, além de porosidade variada.


3 Existe tecnologia para explorar o pré-sal?
Em tese, mas serão necessários investimentos pesados para aprimorar os equipamentos e tornar a prospecção rentável. A Petrobras não dispõe de conhecimento pleno sobre as características do pré-sal. Prova disso é a irregularidade da produção de Tupi. Em testes desde maio, a exploração do poço precisou ser paralisada em julho devido à corrosão em algumas das peças utilizadas. Para tirar o máximo potencial de todas as reservas, o país não poderá também contar exclusivamente com a Petrobras. "É fundamental dispor de soluções tecnológicas desenvolvidas por outras companhias, nacionais e estrangeiras", afirma João Carlos de Luca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

Ricardo Stuckert

NOVA FRONTEIRA
Lula ao lado do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli:
início da produção no campo de Tupi


4 Como será financiada a exploração?
O plano de investimentos da Petrobras para o período de 2009 a 2013 prevê gastos de 29 bilhões de dólares apenas com a exploração do pré-sal. Parece muito dinheiro, mas é quase nada perto das estimativas de que será necessário investir até 1 trilhão de dólares para explorar toda a província petrolífera do pré-sal. Nem o governo nem a Petrobras têm tanto dinheiro. Diante disso, o governo revelou a intenção de aumentar o capital da empresa, que assim ampliaria a sua capacidade de obter financiamentos. O governo tenciona conceder à Petrobras reservas ainda não licitadas, no volume de até 5 bilhões de barris. Com isso, a empresa poderia obter até 100 bilhões de reais. Em troca, a União receberia ações da Petrobras. A ambição do governo é ampliar a sua participação no capital total da empresa, hoje de 32,2%. Mas seria temerário que uma única companhia concentrasse em si todos os investimentos. O ideal seria dividir a tarefa – e os riscos – com outras empresas.

5 A Petrobras sairá fortalecida?
Sim, caso o plano de Lula passe no Congresso. Ainda que a Petrobras não recupere sua posição de monopolista plena no país, ela passará a ter privilégios concedidos na disputa por áreas e também será a operadora única nas novas reservas. A estatal terá uma participação mínima de 30% em todos os campos a ser licitados no pré-sal daqui em diante. Mas nada impedirá que ela, por meio de leilões, aumente sua participação nas áreas que desejar. Além disso, a União poderá também contratar a Petrobras como operadora única e exclusiva dos poços ditos "estratégicos".

6 É preciso mudar as regras do setor?
Na avaliação de especialistas, a proposta defendida pelo governo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha (veja o quadro abaixo) responde a critérios meramente políticos e ideológicos, estimulados pelo desejo de ampliar a interferência estatal no setor. "O sistema de concessão é mais adequado, porque o estado tem o poder indelegável de tributar e fiscalizar", diz David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP. "Estamos partindo de um sistema absolutamente transparente, que não foi objeto de nenhum tipo de questionamento, para um sistema que pode ser questionado permanentemente e no qual não necessariamente prevalece a racionalidade econômica. Haveria um retrocesso institucional." Na avaliação de João Carlos de Luca, do IBP, o novo sistema inibirá a atuação de companhias privadas: "Quem aceitará participar de um consórcio em que todas as decisões serão tomadas pelo governo e pela Petrobras?".

7 Para que servirá a Petro-Sal?
A nova estatal que representará a União na administração das reservas do pré-sal e de outras áreas estratégicas será a fiscal e "olheira" do governo. Vai monitorar a execução dos projetos de exploração e, principalmente, os custos de produção. Ela será comandada por executivos nomeados pelo governo e nascerá sob o risco de se render a interesses políticos, sem falar nas brechas que serão abertas à corrupção.

8 O país será vítima da maldição do petróleo?
Esse fenômeno ocorre quando uma nação é extremamente rica em algum mineral (o petróleo, por exemplo), tornando-se exportadora de um único produto e impedindo a diversificação da economia. É o caso de países como a Venezuela ou os produtores do Oriente Médio. "Não creio que o Brasil tenha de se preocupar muito com esse risco, pois sua economia já é muito complexa e diversificada", diz o professor de economia da Universidade Princeton José Alexandre Scheinkman. De qualquer modo, o governo não quer correr risco e lançará mão de um instrumento bastante conhecido – a criação de um fundo soberano, que se chamará Novo Fundo Social. A ideia é impedir a enxurrada de dólares na economia, ao mesmo tempo que se poupa parte dessa riqueza. A fórmula consagrada internacionalmente é gastar apenas os rendimentos dessas aplicações. Afirma Scheinkman: "O exemplo clássico de país que soube usar muito bem seus recursos naturais é a Noruega, pela preocupação de guardá-los para o proveito das gerações futuras. Outros bons exemplos são a Austrália e o Canadá, que possuem gigantescas reservas naturais e têm sabido manejá-las com sabedoria".

9 A era do petróleo está perto do fim?
A empresa britânica BP estima que, se o mundo continuar a produzir petróleo a um ritmo igual ao do ano passado, as reservas globais durem apenas até 2050 – na hipótese de não haver descobrimento de novas reservas significativas. O pesquisador americano Daniel Yergin, da Cambridge Energy Research Associates (Cera), é mais otimista. Em artigo publicado há pouco no Wall Street Journal, afirmou que levantamentos recentes comprovam a existência de vastos recursos petrolíferos no mundo. O ponto importante aqui é o preço do barril. À medida que o preço sobe, passa a ser possível a extração de jazidas até então tidas como inviáveis. As reservas fáceis de explorar, ou seja, a um custo mais baixo, se não foram esgotadas, caminham para isso. Mas ainda resta ao planeta embrenhar-se em profundidades abissais, como no caso do pré-sal brasileiro, ou extrair petróleo, com imensa dificuldade, das areias betuminosas canadenses. Para que tais projetos sejam atraentes, no entanto, a cotação do barril precisa atingir ao menos 60 dólares.

10 O pré-sal é um bilhete premiado?
Pela ordem de desafios técnicos e econômicos que a sua exploração envolve, não se pode dizer que o pré-sal seja um prêmio de resultado líquido e certo. Diz José Alexandre Scheinkman: "Talvez o país não consiga aproveitar esta oportunidade justamente por ter eventualmente escolhido um modelo errado. Temo que os recursos que fluírem do pré-sal sejam mal aproveitados". O que fazer para escapar dessa maldição? "O governo teria de investir em infraestrutura, educação fundamental e no estímulo à pesquisa científica", diz Scheinkman. Em outras palavras, sem trabalho duro e sabedoria na gestão dos recursos, o pré-sal, a despeito de todas as suas potencialidades, está longe de ser um passaporte certo para o desenvolvimento.

domingo, 1 de novembro de 2009

GUERRA PELA ÁGUA

Da água, do oxigênio, do carbono e do Sol, com o auxílio dos demais minerais, depende toda a vida, em forma de flora e fauna, do Planeta.

A água está presente em todos os organismos vivos e é essencial aos seus metabolismos.

O homem não resiste se privar de água por mais de 48 horas. Logo, ter água para a satisfação das necessidades biológicas é caso de vida para o homem e, nem por isso, ele pára de conspurcá-la.

A guerra pelo petróleo já é uma realidade. Toda vez que os países da OPEP fecham as torneiras é um rebuliço mundial. A economia mundial sofre reflexos de imediato e todos nós sentimos nos bolsos.

Toda vez que há conflitos lá pelas bandas do Golfo Pérsico, os E.U.A. e aliados deslocam suas frotas guerreiras, visando proteger seus tradicionais fornecedores e resgauardar seus investimentos na região.

Da mesma forma que o grande filão de petróleo é aquela região, o grande filão de água doce está mesmo é por aqui.

É muito rara a quantidade de água doce total no Planeta, e mais rara aquela que está facilmente retirável para uso, ou seja, em rios, lagos e nos subsolos não muito profundos.

Acontece que 1/5 dessa água doce disponível está na Bacia Amazônica, sendo, portanto, inacessível até para nós brasileiros, proprietários de praticamente toda a Bacia Amazônica e que estamos longe dela.

A floresta é a grande fábrica de água doce, visto que é responsável por grande parte do ciclo das águas doces das chuvas e principalmente pela capacidade de reter a água e fazer com que os lençóis freáticos sejam abastecidos e também os mananciais (rios e lagos).

Se hoje já se pensa em buscar a água doce, considerada inacessível, nas geleiras dos pólos, a um custo exorbitante, chegará a hora em que o mundo, sedento, virá buscar água na Bacia Amazônica e o Brasil, sendo a “OPEP” das águas doces, terá que reforçar suas estratégias para que não seja surpreendido por invasões ou mesmo dominações alienígenas que venham a influenciar em sua soberania territorial.

Não é atoa que é voz mundial que a Floresta Amazônica é intocável. O Mundo sabe da importância dessa intocabilidade, já vendo o futuro, não muito longínqüo.

Enquanto isso, o que temos mesmo que fazer, nós brasileiros, é gerenciar muito bem nossas bacias hidrográficas que estão próximas de nós, a fim de que possamos ter água “guardada” na Bacia Amazônica por muito tempo, como fonte de sobrevivência e quem sabe, como fonte de divisas. Não é assim que os americanos procedem com o petróleo que têm no Alasca, guardando-o como reserva estratégica?


Gil Portugal

Eng. Ambiental

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A ciência geográfica

Olá! Tudo bem? Vamos, a partir desse momento, iniciar uma longa jornada de estudos, envolvendo uma série de conhecimentos geográficos e de diversas outras ciências afins. Para isso, precisamos antes, conhecer suas características e o seu processo evolutivo . Concordamos todos que, se a maior parte do público culto tem uma idéia mais ou menos exata do que são a Biologia, a Geologia, a Economia ou a Sociologia, o mesmo público não acompanha o progresso das ciências geográficas, quando não ignora sua existência. Para uns a geografia é confundida com narrativas de viajantes; um geógrafo é um explorador, a rigor um cartógrafo; traz de suas viagens narrativas agradáveis de ouvir-se, sobretudo se tem a habilidade de ilustrá-las com belas imagens. É fundamental, portanto, estabelecer o valor a Geografia no ensino e determinar sua utilidade como moderno instrumento de trabalho.
Um bom ensino de Geografia, portanto, como qualquer outro ensino, não pode deixar de recorrer à memória. É necesssário reduzir sem medo a massa de nomes insípidos e de pormenores sem valor; é necessário, sobretudo, reduzi-la a proporções mais justas. Impõe-se uma escolha a nós, professores, a quem cabe a difícil tarefa de exercitar com inteligência a memória de vocês.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

É importante saber!

É bastante antiga a necessidade da humanidade em conhecer o espaço no qual se desenvolve sua vida. A abordagem sistemática do conhecimento da Terra é precisamente o objetivo da Geografia, disciplina cujo nascimento pode ser situado na própria origem do homem, embora só tenha alcançado a categoria de ciência com as escolas Determinista (alemã) e Possibilista (francesa).
A Geografia é marcada por desenvolver sistemas de análise da superfície da Terra. Sua denominação procede dos vocábulos gregos geo ("Terra") e graphein ("escrever").
A superfície terrestre, que compreende a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera, é o habitat, ou meio ambiente, em que podem viver os seres humanos.
A área habitável da superfície terrestre apresenta várias características, das quais uma das mais importantes é a complexa interação dos elementos físicos, biológicos e humanos. Outra característica é a grande variabilidade do ambiente de um lugar para outro, dos trópicos às frias regiões polares, de áridos desertos a úmidas florestas equatoriais, de vastas planícies a montanhas escarpadas, de superfícies geladas e desabitadas a metrópoles densamente povoadas. Sem deixar de mencionar a regu-laridade com que se registram determinados fenômenos, como os climáticos, o que permite generalizações sobre sua distribuição espacial. Os exemplos mais óbvios são as medidas de temperatura e precipitação, principais elementos climáticos para a agropecuária e outras atividades humanas.
A geografia se preocupa particularmente com a localização de seu objeto, com as inter-relações dos fenômenos, com a regionalização e com as afinidades entre as áreas. Pesquisa a respeito dos lugares onde as pessoas vivem, sua distribuição sobre a superfície da Terra e os fatores que influem nessa distribuição. Tenta responder a questões sobre a possibilidade de reconhecer uma região pela população, meio de vida e cultura e sobre os movimentos e relações que ocorrem entre os diferentes lugares.

sábado, 3 de outubro de 2009

As aventuras de uma rocha

Uff!... que fresquinho...Oh! como agradeço ao vulcão que me libertou daquelas altas temperaturas! Já sou um sólido! Estou ansiosa por conhecer esta maravilha crosta terrestre... Pobres das minhas "irmãs" que ficaram lá por baixo. Também se transformarão em sólidos quando atingirem zonas menos quente, mas, não subindo cá para fora, nunca mais verão o céu azul! Será que poderão ver um dia? – Mas então como é isto? Ainda pouco me formei e já me estão a incomodar...
Que esquisito! Começo a sentir-me cada vez mais apertada... estamos a ficar coladas... já não me consigo mexer.
Que vento! E agora a chuva!... Ai que estou a me desfazer alguns dos elementos que me constituem já vão longe, levados pela água e pelo vento. Vou toda aos bocadinhos quero parar e não consigo. Socorro... Socorro! Socorro! Que cansada! Se não fosse encontrar este local tão fundo nunca mais parava...
Ei! Tantas partículas que já aqui estão!... Vou cair em cima delas... Ui! Estão outras a cair em cima de mim.
Olha que linda folha aqui ficou sepultada!
Oh! Que bom! Já estou uma rocha diferente! Tão diferente!
Pareço um "sandwiche de pedra, mas consegui guardar dentro de mim o "esqueleto" da folhinha sepultada!
Ai que não sossego! Adeus crosta terrestre.
Estou a descer. Que escuro! Que peso! Estão a apertar-me. Mas que quente que está aqui! E que lugar tão fundo!...
Sou novamente uma rocha diferente..."

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Veja flagrantes do Big Brother da maior ponte da América do Sul

Conheça os bastidores da Ponte Rio-Niterói. A construção, que completa 35 anos, não para de crescer.


O trânsito na ponte é cada vez mais intenso. A cada ano, 26 milhões de carros passam por lá. A última novidade para atender esse volume de carros é um trecho, uma espécie de acostamento.


Atravessar a Baía de Guanabara pela ponte, com trânsito bom, é um passeio agradável, de cerca de 10 minutos. Tudo que acontece ao longo do caminho é registrado por câmeras. O Big Brother da ponte não perde nada.

Os olhos da Ponte Rio-Niterói são testemunhas de momentos de perigo.

A qualquer hora do dia e da noite, dois operadores estão de plantão no Centro de Controle de Trafego, observando as imagens registradas por 25 câmeras.

“Hoje, o que mais preocupa quem trabalha aqui é a segurança dos motoristas e dos motociclistas. Hoje, as motos representam 4,5% do fluxo e 15% dos acidente”, observa o gestor de atendimento Virgílio Ramos.

O arquivo tem moto batendo, atrapalhando o trânsito, de noite, na contramão. Dois homens apenas de sunga param e um deles atravessa em busca do melhor ângulo. O outro escala a grade de proteção. Tudo por uma foto - o retrato da imprudência.

Na ponte, pode ter chuva em Niterói, sol no Rio de Janeiro e um arco-íris no meio do caminho. À noite, a lua inspira os apaixonados e um casal namora ali mesmo, sem saber que estava no Big Brother da ponte.

Mesmo quem já viu tudo isso se surpreende: “Um fato interessante foi a manifestação do Greenpeace. Pararam duas kombis, fizeram um rápido procedimento no vão central, começaram, a descer de rapel. Acionamos a Polícia Rodoviária Federal e foi aquele movimento todo, com congestionamento em Niterói e em São Gonçalo”, lembra um operador.

Um ônibus pega fogo, e ninguém anda. Um acidente com 96 feridos envolve um caminhão e quatro ônibus. Resultado: congestionamento inevitável.

Na primeira vez que a ponte abriu para o público, também teve congestionamento, O dentista Sérgio Castro Alves esta lá com toda a família no carro: “Foi o único engarrafamento que eu participei até hoje sem estresse. Todo mundo estava feliz, rindo, satisfeito, como se tivesse realizando um desejo, ou uma esperança de muitos e muitos anos, que era a promessa da ligação Rio-Niterói”.

Com um passeio de Rolls Royce, o presidente Emílio Garrastazu Médici inaugurou a ponte em março de 1974. São 13 quilômetros e 290 metros de extensão, a maioria sobre a Baía de Guanabara.

O primeiro projeto de criação de uma ponte para unir Rio de Janeiro e Niterói surgiu em 1875. Mas apenas um século depois, esta ideia virou realidade, atendendo a exigência de um vão central para a passagem dos navios e de uma ponte que não fosse tão alta, que atrapalhasse o voo dos aviões.

O soldador que cuida da ponte até hoje começou a trabalhar construindo peças na obra, na década de 1970: “Eu vi a ponte vir brotando dos alicerces, dos pilares, inclusive trabalhei na confecção das brocas perfuratriz que furava até chegar nas rochas".

Os dois filhos dele já começaram a seguir a carreira do pai: “A ponte é a terceira filha, de 35 anos. Eu considero como se fosse minha filha”.

O engenheiro aposentado Bruno Contarini assinou a execução do projeto. Ele trabalhava em uma plataforma flutuante e lembra do dia em que ficou pronta a última parte, o grande caixote de aço de 13 mil toneladas sobre o vão central: “Quando ele parou no meio da ponte e começou a subir a gente sabia que estava ligado de um lado a outro”.

Nós entramos no vão central. Os técnicos usam o velho método dos rabiscos pelas paredes e também uma tecnologia inovadora, desenvolvida pelos engenheiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Desde 2004 a ponte balança bem menos, graças a um sistema de 192 molas que foi instalado dentro do vão central. "Esse é um sistema único no mundo, desenvolvido especialmente para ser usado na ponte, eliminou esta oscilação de cerca de 2 metros de amplitude que ocorria durante ventos fortes”, explica um gestor de manutenção.

Quando isso acontecia, dava medo.

Embaixo da ponte, a 50 metros acima do mar, encontramos Valdeir e Francisco. “Eu acredito que ninguém conhece essa ponte melhor que a gente. Eu trabalho nela há 11 anos. Não tem um buraquinho dela que eu não já passei”, diz o operário.

Mas nem todos tratam a ponte com carinho. De papelzinho em papelzinho, os operários recolhem toneladas de lixo. No meio da pista ficam pequenos e grandes obstáculos: uma caixa d’água, um cavalo e muito mais.

“A gente se depara com andarilhos, objetos estranhos que caem ao longo da ponte, carrinho de mercado, cachorro, jacaré, cobra. Tem de tudo um pouquinho”, aponta a supervisora de interação com cliente Adriana Alves.

Operários invisíveis trabalham na segurança das 400 mil pessoas que passam por lá todos os dias.

“Acho uma maravilha. Para a gente adiantou bastante”, diz um motorista.

“Adoro a ponte. Ela faz parte da minha vida”, admite uma jovem.

Também faz parte da história de aves. As andorinhas do mar estavam ameaçadas de extinção. Nesta época, período de reprodução, elas chegam da América do Norte e guardam o futuro da espécie nos pilares da ponte.